domingo, 29 de janeiro de 2012

Etílico

Marília estava ofegando. Deu por si em um imenso canavial sem visível fim. Estava frio, estava escuro, uma brisa sacana arrepiava os pelos de sua nuca e enregelava suas costelas.
Não parecia haver luz de esperança em raio de fim do túnel nenhum. Caminhava descalça, apavorada, pisando em coisas que dilacerava a pele de seus pés. O trapo que vestia se desfazia à medida que avançava pelo mato alto. Indiscutível e até impreterivelmente, um farfalhar acima de seu próprio horrorizou sua cabeça. Petrificada, Marília virou seu crânio para a esquerda, a respiração mais desandada que escada rolante. Prosseguiu andando, resolvendo-se, tentando não pisar forte e ao mesmo tempo não andar devagar. As canas agigantavam-se passo a passo, seu medo também. O farfalhar então se espalhou como uma onda sonora representada.
Sem aguentar mais, Marília correu, deixou pra trás alguns pedaços de seu corpo e gotas de seu sangue, apresentou-se à escuridão sem hesitação e caiu, sem lua pra assistir.
O chão heterogêneo se enterrou em seu rosto, queria abrir o canavial como porta e encontrar um céu azul iluminado, mas tudo girava independente dos olhos. Ali mesmo, Marília adormeceu.

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