domingo, 21 de novembro de 2010

O homem, eu e o vendedor de doce de banana

Hoje eu entrei no trem e fui surpreendido por um homem com cara de senhor, cabelos e barbas em excesso, a roupa rasgada e suja com um olhar muito canino. Sentou-se ao chão e abriu suas pernas de modo a deixar quase visível suas partes íntimas, nesse momento não tão íntimas assim. Os passageiros o miravam, discretos, como quem procuram explicação para a cena.
Completando o cenário, um vendedor de doce de banana desfila por ele, que está sentado ao chão com uma mochila muito bonita. O vendedor passa uma, duas, três, sete vezes pela figura solitária que mira as vendas como um cão que se rende aos frangos de padaria.
Meu coração começou a coçar de agonia e então comprei do vendedor de doce de banana quatro pacotinhos por um real.
Faltavam ainda uns três minutos pro trem chegar na estação, e então me levantei. Perguntei ao homem de cabelos espessos:
- Você quer?
A princípio ele negou, depois me fixou um olhar penetrante com seus olhos espantosamente claros.
- Eu não gosto - disse eu.
Então ele abriu a mão, depositei em sua mão e saí do trem. Desembarquei na Barra Funda, levando um quase sorriso daquele homem comigo.
Eu deveria me sentir feliz, leve e flutuante por ter feito algo àquele homem... mas não, minhas pernas estavam moles como o caule de uma planta anã. Eu estava com os olhos desfocados e os dedos fracos.
Não deveria ter ficado com receio, fora tão difícil conseguir tal feito, apesar da agonia. Foi nisso que fiquei pensando, no quão fácil teria sido eu discutir com ele, e até partir pra porrada, por ele ter reclamado do assento em que estava antes de ser empurrado. Teria sido muito mais fácil eu olhar com uma cara feia devido aos seus resmungos do que ter quase lhe arrancado um sorriso pelos doces.
Por que é tão fácil plantar o mal e tão difícil fazer brotar o bem?
Filosofias à parte, fora o doce de banana mais gostoso que eu saboreara, e e nem cheguei a desembrulhar.

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